Por Maíra Kubík, no Viva Mulher
Que atire a primeira pedra a mulher que nunca se sentiu ameaçada fisicamente por um homem. Ameaça é uma palavra abrangente, veja bem. A coerção pode ser por meio de gestos, pressões psicológicas e subterfúgios que dêem, no fundo, um indício de agressividade que talvez você nem perceba a priori.
Que atire a primeira pedra aquela que nunca achou que uma discussão sobre ciúmes ou qualquer outro problema poderia acabar em tapa, ou pior, em tiro e facada. Em especial se o namorado, marido ou companheiro era maior e aparentemente mais forte.
Que atire a primeira pedra a mulher que nunca ouviu um “olha que eu te bato, heim” ou “você está merecendo apanhar” em tom de brincadeira, mas que no fundo guardava uma realidade cruel dos fatos: a mulher de fato apanha.
Em 25 de novembro celebrou-se o dia Latino-americano e Caribenho de Luta Contra a Violência à Mulher. E é preciso, mais uma vez, dizer que a maioria dos agressores está dentro de nossas próprias casas.
Segundo o Mapa da Violência 2010, organizado pelo Instituto Sangari, uma mulher é assassinada a cada duas horas no Brasil, em geral pelas mãos de parentes, maridos, namorados, ex-companheiros ou homens que foram rejeitados por elas. O Brasil ocupa a nada honrosa 12° posição no ranking mundial de assassinatos de mulheres.
Ainda que não tão extremo, um dado da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República é igualmente preocupante: foram realizados 343.063 atendimentos nos sete primeiros meses de 2010 pelo disque denúncia (180). Ou seja, mais de 49 mil telefonemas por mês!
Imaginemos todas as outras que não ousaram pedir ajuda, gritar por socorro. Quantas seriam? Onde estariam?
A violência contra a mulher não escolhe classe, cor, idade ou local. De cantadas ofensivas na rua à super exposição de corpos como meros objetos nas propagandas de cerveja; do tráfico de mulheres ao assédio no trabalho; da prostituição à esterilização forçada. De um tapinha “inofensivo” a uma humilhação moral. Todos os dias, todos os minutos, tenha certeza que, cada vez que você pensar nesse tema, alguém estará sendo agredida.
E nós sabemos disso: uma pesquisa realizada em 2009 pelo IBOPE e o Instituto Avon mostrou que a violência contra a mulher é a maior preocupação para 56% das entrevistadas, aparecendo antes de temas como saúde e desemprego.
Às que já se foram, essas não podem mais atirar as pedras. Mércia. Eliza. Eloá. Que talvez em breve se chamem Ruth, Cristina ou Maria. Mas deixemos essa idéia de lado, porque violência não se combate com violência. Só não nos calemos, porque essa é a chave da impunidade e de todos os crimes de ódio.
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