Por Eduardo Guimarães, no Blog da Cidadania
O que você acharia de uma novela argentina que tivesse um personagem chamado “Brasil”? O nome do país seria dado a um homem feioso, estúpido, malandro, preguiçoso, covarde, invejoso e arrogante que tem uma vizinha virtuosa, bela, inteligente, esforçada, leal e humilde, vítima constante das armações do vizinho. O nome da heróina seria “Argentina”.
É sob esta ótica que peço que o leitor analise notícia sobre o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, amplamente veiculada nos últimos dias, por ele ter proibido, em seu país, a exibição de uma produção colombiana que faz com a Venezuela o mesmo que a novela fictícia que inventei no parágrafo anterior faria com o Brasil.
Hugo Chávez determinou à rede de TV Televen que pare de transmitir a novela colombiana “Chepe Fortuna”. A Conatel (Comissão Nacional de Telecomunicações) avaliou que o programa “subestima a inteligência dos telespectadores” devido ao tratamento dado a duas personagens, as irmãs Colômbia (bonita, correta e cheia de virtudes) e Venezuela (feia, malandra e histérica).
Em um dos episódios, Venezuela entra em desespero ao ser informada de que perdeu seu cachorrinho de estimação, Huguito. “O que será de mim sem ele?”, pergunta, desconsolada. “Você será livre, Venezuela! Porque Huguito ultimamente andava se metendo nas casas alheias, o que te deixava mal perante os outros”, foi a resposta.
Em outro momento da série, a personagem descobre que está grávida e decide que seu filho vai se chamar Fidelito.
Segundo a Conatel, há uma “manipulação descarada no roteiro para desmoralizar a população venezuelana”.
A mesma mídia que acusa Chávez de promover censura se cala sobre o documentário da BBC de Londres “Beyond Citizen Kane”, proibido no Brasil desde a estréia, em 1993, por decisão judicial, por tratar das relações sombrias entre a Rede Globo e grupos políticos, dentre os quais os que promoveram a ditadura militar brasileira.
É discutível a decisão de Chávez de proibir uma obra artística, ainda que seja possível entender que qualquer povo fique ofendido com uma novela como a colombiana. Todavia, uma mídia que pede censura a fatos indiscutíveis sobre seu tentáculo mais poderoso não tem a menor moral para acusar o presidente da Venezuela de censor.
Eu acho que a novela provavelmente tenta mostrar a Venezuela de uma forma que desmoraliza a população e o governo, bem como subestima a inteligência dos telespectadores. Mas acho que quem deve julgar se a novela deve ser vista é o telespectador. Pra mim um governo não deve NUNCA impedir a transmissão de um programa. Pois o risco é começar censurando por um motivo que pode ser considerado "nobre" e daí seguir com uma lista de coisas que não pode ser falada nos programas. Coisa muita parecida tivemos aqui na nossa ditadura, começou as poucos, no fim não podia ter nenhuma palavra suspeita. Inicia-se com a televisão depois segue-se para os livros. Acho que os governos tem que conviver com as pessoas e instituições que pensam diferente. Tivermos um bom exemplo aqui. O Governo Lula foi o tempo todo perseguido pela nossa mídia, mas com boa admnistração não precisou censurar ninguém, não adiantou a campanha contra, a compentência se estabeleceu e os índices de aprovação foram sempre altos, mesmos em momentos difíceis. Ana Sobel
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