Lugo, a mais recente vítima da elite paraguaia, sente o Golpe branco
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Ainda que a constituição paraguaia permita o juízo político de seus governantes, um processo de impeachment que se desenrola em apenas dois dias só pode ser definido com uma única palavra: golpe. Foi isso o que aconteceu no Paraguai, por mais que vozes conservadoras, daqui e de lá, defendam a legalidade do processo. Ponto.
Até aí, não há muita surpresa, uma vez que a história paraguaia é marcada por golpes, ditaduras e quarteladas. A diferença, desta vez, foi a sutileza de um “golpe parlamentar”, um “golpe democrático”. Em resumo, um golpe branco, imposto pela elite oligárquica do país.
Surpresa em si foi a reação do presidente Fernando Lugo, que não opôs resistência alguma e se ofereceu passivamente ao martírio. A que se deve essa atitude? Talvez seja fruto da sua formação católica. Ex-padre, e achincalhado por muitos pelas dezenas de filhos que fez, Lugo tem alma cristã. Ao deixar o poder, ele ofereceu a outra face. “Saio pela porta maior, a do coração”, disse o ex-presidente. Lugo ainda tentará – em vão – recuperar seus direitos políticos, mas essa é uma batalha perdida.
No Paraguai, tudo parece estar dominado: Congresso, meios de comunicação e a própria Igreja Católica. Nos jornais paraguaios de hoje, não se encontrará uma única referência ao golpe. Periódicos como "ABC Color" e "Cronica" tratam a deposição de um presidente eleito como um fato corriqueiro, tal qual uma partida de futebol do Cerro Porteño. O ABC, por sinal, trouxe a seguinte manchete no dia de ontem, que já antecipava a decisão do Congresso: "Se não renunciar, Lugo será cassado".
Assim como os meios de comunicação, a Igreja Católica paraguaia também se uniu à elite conservadora na trama do golpe de Estado. Horas antes do “juízo político”, Lugo recebeu, na residência oficial do país, um grupo de bispos da Conferência Episcopal, que equivale à CNBB no Brasil. Um deles, Claudio Giménez saiu afirmando à imprensa que os padres pediram a Lugo que renunciasse para “evitar enfrentamentos”.
Passivo, Lugo assim resumiu sua queda: “Não é Lugo o destituído, é a história paraguaia”. Errado. A história paraguaia não foi destituída. Ela foi restituída.
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