"O PT tem como grande referência sua lealdade a um projeto. Não ficamos chafurdando na Frente, puxando o tapete dos outros" |
Em entrevista a Ana Lúcia Andrade e Bruna Serra, no Jornal do Commercio, o senador Humberto Costa (PT) atribui à falta de articulação da Frente Popular os recentes transtornos envolvendo os aliados.
JC - O que aconteceu na
Frente Popular? Foi algo isolado, de Petrolina, ou o anúncio de uma
desarrumação dessa base que ficou grande demais?
HUMBERTO COSTA – A
avaliação que faço é de que tudo o que aconteceu até agora é resultado de um
problema coletivo, de uma falta de articulação política. Nós do PT assumimos a
nossa parte nisso, muito embora, por mais de uma vez, tanto o presidente
estadual do PT (Pedro Eugênio), quanto eu, quanto outras pessoas, procuramos pelo
menos, no caso do PSB, estabelecer conversas bilaterais. Mas assumimos a nossa
parte e responsabilidade. Agora, não houve articulação na Frente Popular para
que pudéssemos estar discutindo desde o começo do ano o que fazer em cada
município, qual é importante para o partido tal, ou seja, fazer um debate onde
os interesses pudessem ser partidariamente discutidos. Foi cada um por si para
lutar pelo que considera melhor para si.
JC - Caberia a alguém ter
tomado a iniciativa?
HUMBERTO - O PSB, como
partido majoritário, hegemônico da Frente Popular, poderia ter sido o
catalizador dessa discussão. Lógico que isso não é um assunto para o
governador, mas para os partidos, em especial o PSB que é majoritário.
Poderíamos ter discutido como proceder de forma a não gerar fraturas na Frente.
Tudo isso está acontecendo por falta de diálogo. E essa é apenas uma etapa, a
das filiações, as definições de candidaturas vão acontecer do fim do ano para
frente. Se não criarmos esse fórum para debater as candidaturas em cada município,
quando chegar lá na frente teremos o mesmo problema. É lógico que não teremos
um consenso geral porque os interesses são diversos. Há municípios que têm
quatro grupos que apoiam a Frente Popular. Em alguns não vai ter como conciliar
os interesses, mas onde for possível estabelecer a conciliação, melhor. O PT
vai publicamente, passado o 7 de outubro, fazer um chamamento ao PTB, ao PDT,
ao PSB, ao PCdoB para que possamos discutir 2012 de uma forma articulada.
JC - Como funcionaria o
fórum?
HUMBERTO - Uma vez por mês
os partidos aliados devem discutir onde é que está a grande a confusão. Onde
tem jeito (entendimento) e onde não tem. É isso que tem que fazer. Outra coisa:
quem é que decide o que é prioritário para cada partido? Disseram essa semana
que Caruaru é importante para o PDT; para o PCdoB é Olinda; para o PT, Recife;
para o PSB, Petrolina. E o PTB? E Santa Cruz do Capibaribe? Essa é a cidade
mais importante para o PTB, porque não se respeita também? Tem sido feito lá um
acordo do PSDB com o PSB contra o PTB. Por que o PTB também não pode dizer:
“Isso aqui deixa para mim.” Quem é que decide? Os partidos têm que fazer essa
discussão e não deixar escapar a unidade na Frente.
HUMBERTO - Houve vários
equívocos. É um erro pensar que os partidos têm a mesma maneira de se organizar
politicamente. O PT, por exemplo, não tem dono e algumas colocações fulanizaram
o que aconteceu aqui ou ali. Está muito claro que houve uma preocupação com
outro momento que não é 2012. As pessoas estão preocupadas com 2014, acham que
fulano é candidato, que sicrano é candidato, e vai pra cima de fulano para
responsabilizá-lo, para dizer que causou isso e aquilo. Não sou dono do PT, não
mando no PT. Na discussão sobre Olinda, que todos sabem da minha posição, se a
maioria do partido decidir que vai ter uma candidatura, está decidido. Não se
pode é querer colocar em cima de ninguém uma responsabilidade a não ser que o
objetivo seja o de criar fantasmas dentro da Frente Popular. Há lugares onde os
problemas não começaram ontem e nem foi o PT que criou.
JC - Por exemplo?
HUMBERTO - Petrolina. Um
problema que se arrasta desde 2004 quando o PSB lançou a candidatura de Gonzaga
(Patriota) e o PT apoiou. Perdemos na última semana da eleição para o candidato
do PPS que era Fernando Bezerra. Em 2008, o PT queria apoiar a candidatura de
Odacy Amorim (deputado estadual), que era o prefeito com Fernando na vice. O
PSB local fez uma convenção e o prefeito perdeu. Nós do PT queríamos a
candidatura de Odacy, mas apoiamos o candidato que o PSB indicou que foi o
Gonzaga Patriota. Nem participamos da chapa, apoiamos, perdemos a eleição e
essa ferida não foi sanada. Quer dizer, foi o PSB que não resolveu o seu
problema interno. Odacy saiu do PSB não por convite do PT. Eles é que não
conseguiram se resolver lá. Agora, se uma pessoa sai do partido, diz que quer
vir para o PT, tem o perfil de alguém para ser do PT, a gente diz que sua vinda
não está condicionada à candidatura, nem a controle de diretório e ele vem,
onde é que está a responsabilidade do PT? Além do mais, é importante dizer que
não dá para comparar com a questão de Recife, de Olinda, de Caruaru. Nesses
lugares, a Frente Popular é governo. Em Petrolina o governo é o PMDB. Quem sabe
qual é a melhor alternativa para derrotar o governo do PMDB? Porque que
necessariamente tem que ser A, B, C ou D? São situações diferentes. Por
exemplo, em Araçoiaba, nós tínhamos um candidato com amplas chances de ganhar a
eleição, Antônio Maria Rita, que foi para o PSB. Vamos responsabilizar o PSB?
Não! Foi uma contingência de ordem local. Quando alguém do PT troca seu
domicílio eleitoral gera-se um verdadeiro escândalo. Ninguém vai impor no Cabo
uma candidatura que não seja debatida com Lula Cabral (atual prefeito), nem em
Ipojuca sem debater com Pedro Serafim (atual prefeito). Queremos a discussão.
No entanto, o deputado Aloísio Lessa (PSB) vai para Goiana e não há nenhum
questionamento em relação a isso. E não acho que deve haver porque o nome dele será
colocado em discussão. Não se pode ter dois pesos e duas medidas. E essas
coisas acontecem não porque há gente pensando em 2014.
JC - Foi isso que gerou
essa grita no PSB a ponto de o partido colocar em xeque a aliança no Recife?
HUMBERTO - Não sei. O fato
que há é que, os movimentos de parte a parte, aconteceram. Em Recife o PSB está
saindo de dois para seis vereadores, inclusive com um do PT. Normal. Não estou
reclamando. Paulo Rubem, deputado federal do PDT, trocou seu domicílio
eleitoral para o Recife. Suponho que o PDT, no momento certo, vai dizer que é
Paulo Rubem ou vamos ter que discutir. O que houve foi uma leitura equivocada
dos movimentos que aconteceram, ao invés de obedecerem a uma lógica municipal,
estão obedecendo a lógica de 2014.
JC – Isso já é um sinal
da dificuldade de manter todos juntos em 2014?
HUMBERTO - O que vai
acontecer em 2014 depende de muita coisa. Do resultado da eleição municipal, do
sucesso dos governos Dilma e Eduardo, do que Lula vai fazer. Como é que se
antecipa uma discussão como essa agora? E mais: o pobre do PT tem oito
prefeituras e se faz um escarcéu desses porque o PT filiou A, B ou C. Se o PT
sair de 8 para 10, para 15 ou para 20, é isso que vai definir se o PT terá
candidato lá na frente? Não faz sentido.
JC - Os aliados alegam
que o PT perdeu o tempo de crescer e quer agora querer crescer em cima do PSB.
HUMBERTO - Isso não
existe. O que impediu o PT de crescer não é coisa de Lula ter sido governo ou
não. Temos que considerar que o PSB ganhou a eleição em 2006 e cresceu em cima
da realidade local. Para crescer, o PT teve de disputar espaço com a oposição e
com o PTB, PDT, PCdoB e o PSB. Mantivemos nosso maior patrimônio político que é
a prefeitura do Recife. Elegemos um senador, mantivemos as bancadas federal e
estadual e vamos crescer nessa eleição municipal. Outra coisa: nesse processo
de crescimento, o PT tem como grande referência sua lealdade a um projeto. Não
ficamos chafurdando na Frente, puxando o tapete dos outros. Pode existir um partido
tão leal à Frente Popular e ao governo Eduardo quanto o PT, mais, eu quero que
me mostrem. Não podemos aceitar esse tipo de colocação. Colocaram no PT a pecha
de partido que quer fazer tudo sozinho, de que não faz coligação. O PT é quem
mais fez aliança. Fomos inteiramente fiéis esse tempo todo.
JC - O PTB discretamente
abre um debate interno de candidatura própria no Recife. Pode avançar?
Resolvido o problema da permanência de João Paulo no PT não era o caso de se
trabalhar a unidade em torno do prefeito João da Costa?
HUMBERTO - O movimento
pela permanência de João Paulo no PT resolve um dos principais problemas do PT.
Porque a saída de João Paulo certamente levaria a uma disputa muito difícil,
muito complicada. Foi um esforço coletivo: do ex-presidente Lula, da presidenta
Dilma, do presidente Rui Falcão, dos deputados federais do PT, de Pedro
Eugênio, meu e do governador Eduardo Campos. Isso é uma parte da questão. A
outra é a construção da unidade para 2012. Em dezembro, o PTB saiu do governo (PCR)
e se manteve numa posição de independência. Certamente lá na frente, o PT vai
procurar não só o PTB como outros partidos para a construção da unidade. Será
esse o caminho que o PT junto com o governador, Dilma e Lula vai trabalhar. Mas
o Recife deixou de ser um problema do Recife só. O movimento para que João
Paulo ficasse no PT extrapolou uma discussão meramente local, foi uma questão
nacional. Muitos atores agora serão ouvidos.
JC - A permanência de
João Paulo não sacramenta a candidatura de João da Costa?
HUMBERTO - Se a
prefeitura realmente continuar melhorando, sem dúvida ele será o nome mais
provável do partido. Agora, com certeza João Paulo passa a ter, depois desse
episódio, um papel muito relevante no processo eleitoral. Não faz sentindo todo
o esforço para manter João Paulo no partido, a principal liderança popular e
eleitoral do Recife, e não trazê-lo à mesa na hora de discutir 2012.
JC - Quando o PT não
assume de imediato João da Costa não deixa o quadro em aberto?
HUMBERTO – Não tem nada
disso. Não posso falar o que é que João Paulo ouviu nas conversas que não
participei. Mas não sei se ele assumiu compromissos de apoiar ou não apoiar
quem quer que seja. Vamos trabalhar para que o candidato tenha o apoio de
todos. Inclusive de João Paulo, se ele não for o candidato. Se for João Paulo
que ele tenha o apoio do prefeito.
JC - O que exatamente
pesou para João Paulo permanecer no PT?
HUMBERTO - João Paulo não
é um político qualquer. É um político que tem uma militância que veio dos
movimentos sociais, militou em organização clandestina, foi uma das pessoas que
entrou no PT no seu início. Tem uma ideologia e uma concepção que é petista. É
muito difícil para quem tem essa percepção, essa visão ideológica, que tem um
projeto que extrapola eleição, conseguir resolver um conflito de saída de
partido. Acho que foram os compromissos político e ideológico dele, o vínculo
com o PT. Depois, João Paulo tinha a leitura de que o PT não valorizava o
patrimônio político dele. Acho que ficou muito claro para ele que o PT atribui
um grande valor a ele e ao seu patrimônio político. Acho que ele entendeu que a
política é uma gangorra, uma hora a gente acerta outra hora a gente erra. Tem
momentos que a gente está na dificuldade, no outro se supera.
JC - Como será a participação
de João Paulo nas eleições de 2012?
HUMBERTO - Espero que
seja plena. Vamos trabalhar para que o candidato que saia seja o de todos. Mas
vamos ter um universo maior de opiniões para se definir. O que é que eu estou
querendo dizer claramente? João Paulo agora fora do partido seria candidato do
PV? Com esse cenário, não posso dizer de antemão que o PT ganharia a eleição.
Então a permanência dele é um divisor de águas. E se ele é importante a esse
ponto, deve ser escutado, levado em consideração. Como é que vamos fazer uma
campanha para eleger um prefeito do Recife escondendo João Paulo da televisão,
do rádio?
FBC troca de partido como se troca de camisa! Só não trocou agora durante a mudança de Odacy para PT por que não teve tempo!
ResponderExcluirOS COELHOS ACHAM QUE PETROLINA É UMA ILHA!
ResponderExcluirFBC tentou fazer-se conhecido em Pernambuco com o Santa Cruz e levou o time mais pra baixo ainda. Agora, se for tentar disputar uma eleição de prefeito em Recife vai ser humilhado nas urnas, mesmo com todo apoio de Eduardo, pois o povo de Recife conhece político oportunista de longe.
ResponderExcluirHumberto como sempre lúcido e coerente, não abriu de mão de fazer política com honestidade mas sem abrir mão da luta do PT por espaço, de forma legítima. Enfrenta o adversário com classe e mostra como se faz política. Esse é o senador que Pernambuco precisava.
ResponderExcluirOdacy será o prefeito de Petrolina, essa é a realidade, resta ao PT de Petrolina não abaixar a cabeça porque agora sem dúvida está muito mais fortalecido.
ResponderExcluirEsse comentário de Elida Cavalcanti já disse tudo!
ResponderExcluirParabéns pelo comentário!