A charge de Lailson de Holanda mostra bem como a coisa é |
Por Clóvis Roberto Zimmermann, no Red Por Tí America
Estimativas da FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação), o número de pessoas que passam fome no mundo aumentou em 2010 em relação ao período anterior, girando em torno de 935 milhões de pessoas.
No período de 2006-2008, a mesma organização calculou que o número de famintos estava em torno de 850 milhões. Ou seja, apesar de todo o discurso do aumento da produção agrícola em virtude da introdução de produtos transgênicos, a fome lamentavelmente continua a subir no mundo.
Diversos estudos indicam que fome no mundo não ocorre pela insuficiência na produção de alimentos, já que o processo de modernização agrícola, conhecido como Revolução Verde, permitiu um aumento da oferta per capita mundial de alimentos. Esse aumento ocorreu ao mesmo tempo em que a população mundial crescia, a população rural decrescia e a área agrícola se reduzia. São ainda comuns os discursos simplistas que relacionam a ocorrência da fome no planeta ao crescimento populacional. O grande problema da fome que castiga parte da população mundial é resultado da falta de renda e não da insuficiente produção de alimentos.
Nos últimos anos temos verificado o aumento do preço dos alimentos, causados pelas mudanças climáticas, como o aumento da frequência de distúrbios do tempo e de forma especial devido à crescente demanda por biocombustíveis, como é o caso do etanol e a crescente “mercantilização” dos produtos de base agrícolas e alimentares. Os efeitos do aumento dos preços têm contribuído para o aumento da fome e da insegurança alimentar no mundo.
No Brasil, a segurança alimentar depende, entre outras coisas, das pessoas terem poder de compra para adquirir seus alimentos. 16 milhões de pessoas possuem rendimentos muito baixos que as colocam, obviamente, em uma situação de insegurança alimentar. Assim, a fome no Brasil também não é causada pela baixa disponibilidade de alimentos, mas por falta de condições para produzir ou adquirir tais alimentos. Por isso o nosso país, mesmo com os avanços registrados nos últimos anos, não garante o direito à alimentação adequada de muitas pessoas, o que implicaria em ter acessibilidade física ou os meios para produção de seus alimentos.
Clóvis Roberto Zimmermann é doutor em Sociologia pela Universidade de Heidelberg, Alemanha e Professor de Sociologia da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e Vice-Diretor da ONG Fian Brasil
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