quarta-feira, 27 de outubro de 2010
O papelão da grande imprensa
Por Teca Simões
Já houve uma época em que o presidente do Brasil foi muito atacado pela imprensa, e para resolver o problema, criou um jornal a favor do Governo. Não estou falando do presidente Lula, apesar da semelhança nos ataques da mídia. Refiro-me a Getúlio Vargas e o início do jornal "Última Hora", fundado em 1951 pelo jornalista Samuel Warner.
Com o golpe de 1964, e Wainer exilado, o periódico entrou em declínio. O governo militar fazia pressões sobre anunciantes, tirando subsídios e a publicidade oficial. O "Última Hora" acabou falindo, em 1971.
Durante a ditadutra, de 1964 a 1985 e, posteriormente, nos governos Collor, Itamar e FHC, houve uma enorme concentração de verba publicitária governamental destinada a poucas empresas de comunicação de TV e rádio, principalmente.
A torneira por onde jorravam as verbas públicas saciava a sede de uns poucos, notadamente de empresas de comunicação do eixo sudeste-sul.
Pois bem. No governo do presidente Lula, que iniciou-se em 2003, houve maior descentralização no destino dessas verbas e mais de 5 mil veículos de comunicação passaram a ser contemplados.
Agora, imagine a perda de receita que essa atitude gerou nos grandes grupos empresariais de mídia do país. O dinheiro que antes era destinado a alguns poucos passou a ser distribuído com mais veículos. Na visão dos monopolistas, isso é inadmissível.
Não é outra coisa o que está acontecendo agora, às vésperas da eleição presidencial. Redes de televisão, tendo à frente a Globo e editoras, capitaneadas por jornais como Folha de São Paulo e O Estadão, além da revista Veja, toda semana, ininterruptamente, desde que a candidata a presidente da República Dilma Rousseff-PT apareceu com reais chances de vitória, fabricam escândalos ou acrescentam nas notícias os acessórios que confundem os leitores, no intuito de atingir o PT.
Como exemplo dessa manobra temos a quebra do sigilo fiscal de pessoas ligadas a José Serra, candidato a presidente do Brasil. O fato surgiu de uma guerra interna do PSDB, envolvendo o próprio Serra e o governador de Minas Gerais Aécio Neves, quando ambos disputavam dentro do PSDB a indicação para concorrer a presidência do Brasil. A Rede Globo e os outros meios escondem este fato e o tal escândalo da quebra de sigilo é jogado na mídia como coisa do PT.
Você pode se perguntar, como a grande imprensa se presta a um papel desse? E a sua reputação de imparcial? Ora, os lucros que essas empresas tem com um governo aliado, favorável aos seus negócios, como é o caso de José Serra, se eleito, foge a nossa compreensão. Às favas com os escrúpulos, o que está em jogo são milhões de reais gastos por órgãos ou instituições do governo em publicidade, compras de revistas, jornal, apostilas e livros.
O Estado de São Paulo, governado pelo PSDB há mais de um década, é um exemplo disso. São milhões gastos com veiculação de propagandas, assinaturas de revistas e periódicos, além de compras de livros, alguns inclusive imprestáveis como fonte de conhecimentos. Em troca, a mídia não noticia as tragédias e mazelas do Estado de São Paulo. Logo, quando fatos não são mostrados nesses renomados veículos de comunicação, praticamente não aconteceram. Existe arrumado melhor do que esse?
São Paulo, servindo como exemplo, é pouco para a ambição descomunal dessa gente. Dizem representar a democracia, defender a liberdade de expressão, mas, em nome desses valores, só defendem seus interesses. Fazendo um trocadilho infame, diria que eles não estão interessados em liberdade de expressão, mas em liberdade de impressão... De revistas, jornais, livros, para vender a um comprador certo: o Governo, voltado para os seus objetivos.
É difícil, praticamente impossível, para qualquer candidata ou candidato que não comunga da mesma ideia, não ser vítima de todo tipo de armação e deturpação, como estamos vendo neste período eleitoral. Desde as acusações que fazem à Dilma de ser a favor do aborto (Mônica Serra, mulher do adversário e arauta da moralidade e dos valores não processou a aluna que disse que ela fez aborto, por que será?), passando pela preferência sexual das pessoas, até a religião, colocados para a população de forma grotesca e aterrorizante.
Não precisamos, hoje, que o presidente crie um jornal a favor do governo, como fez Vargas com o "Última Hora". Necessitamos de meios de comunicação que falem e informem a verdade, que desmascarem os mentirosos que estão e são contra os interesses públicos, seja quem for.
Assim, para não nos sentirmos tão desamparados, servindo de massa de manobra para os poderosos, é que existe a internet, com blogs progressistas, de esquerda, que acompanham os passos da grande mídia, desmascaram os truques, informam e mostram quando o rei, aqui como metáfora dos interesses escusos, está nu.
O povo brasileiro não pode permitir que redes de rádio e tv, frutos de concessão pública, chantagiem governo e pessoas que mexem ou dificultam os seus negócios na obtenção de lucros, porque o que vemos atualmente é isso. Há o "cala boca" dos governos, seja federal, estadual ou municipal, distribuídos através de verbas para compra de espaço publicitário, jornais, revistas e livros.
Se não houver um "pode parar!" ficaremos à mercê dos interesses dos grandes conglomerados de comunicação, que filtrarão o que a população pode ou não saber, colocando-se como detentores da verdade, mesmo que ela seja uma grande mentira.
Teca Simões é professora de História e Geografia
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Cláudio,
ResponderExcluirExcelente o texto da professora. É bom ver que mais e mais pessoas estão se inserindo nesse contra de luta contra a hegemonia dos veículos de comunicação. Esse tema da distribuição de verbas publicitárias é um ponto extremamente sensível. É bom que se fale sobre ele, porque é um dos cernes de tudo isso. Leia este recorte de um texto do colunista da Folha, Fernando Barros e Silva:
“Em 2003, a Presidência anunciava em 499 veículos; em 2009, foram 2.597 os contemplados -um aumento de 961%. Discriminada por tipo de mídia, essa explosão capilarizada da propaganda oficial irrigou primeiro as rádios (270 em 2003, 2.597 em 2008), depois os jornais (de 179 para 1.273) e a seguir o que é catalogado como “outras mídias”, entre elas a internet, com 1.046 beneficiadas em 2008.”
Para quem lê o articulista da Folha, deve soar como um absurdo esse aumento assustador das publicidades. Um aumento de "961%", isso é uma infâmia contra o Erário!
Acontece que o articulista "esqueceu" de dizer que o aumento no número de anunciantes se deu sem aumento significativo das verbas. Ou seja, as verbas destinadas são praticamente as mesmas.
O que aumentou em 961% foi a quantidade de veículos onde se distribuíram essas verbas. Numa leitura pouco atenta e rápida, característica do corrido mundo contemporâneo, dificilmente essa percepção é sentida pelo leitor. Em suma, esse parágrafo desinforma e confunde quem o lê sem muita atenção.
A esse propósito, escrevi um artigo há algum tempo, no Acerto de Contas. Deixo aqui o link, caso queiras dar uma lida.
http://acertodecontas.blog.br/midia/as-concessoes-publicas-e-as-eleicoes-presidenciais/
Forte abraço!
Caro André Raboni,
ResponderExcluirRealmente, esta questão do domínio dos veículos de comunicação no Brasil é tão delicada quanto revoltante, haja visto o silêncio da maioria dos colegas sobre o assunto.
É por essas e outras que sou admirador e leitor diário do Acerto de Contas. Para mim é o melhor blog do Nordeste e um dos melhores do Brasil, tanto pelas pautas extraordinárias quanto pela qualidade dos textos.
Continuem mantendo a linha e contem com a nossa audiência.
Um grande abraço.
Eu, de forma muito particular, concordo com os dados históricos colocados por Teca e tb com os deserviço para população q a grande imprensa tem prestado...
ResponderExcluirNo entanto o q está colocado não é apenas um problema de democratização das verbas publicitárias da União, mas a própria questão ideológica arcaica que se encontra presente nas nossas eleites...
Não podemos esquecer q antes mesmo de Lula assumir, os meios de comunicação de massa vem prestando esse papel...Ou seja, sempre estiveram ao lado e com os partidos reacionários, sendo estes representantes de elite quem "governava", se é podemos dizer assim, este país a pouco mais de 500 anos.
Para terminar, lembrarei um episódio mais recente onde a Imprensa cumpriu muito bem e com o mesmo vigor, essa baixaria q ele chamam de informação, na primeira eleição em q Lula concorreu e q Collor era o favorito das elites. Ou seja,o papel da Globo, Veja e Folha de São Paulo foi o mesmo q estão cumprindo agora...
Mais atrás um pouco a Folha de São Paulo cumpria o nefasto favor aos torturadores militares, de emprestar seus carros, q serviam a entrega de jornais, para q esses assassinos transportassem presos políticos sem serem vistos, disfarçados em trabalhadores deste periódico...
Portanto...