Por Luiz Eduardo Nascimento (LEN), no Ponto&Contraponto
O que seria apenas mais uma investida da revista VEJA, na cruzada do grupo do Millenium para manter o governo Dilma contra a parede e demonizar Lula, José Dirceu e o PT, pode ter se transformado em um elemento detonador de uma reação do partido contra a partidarização de veículos de comunicação, que a sua militância vem cobrando faz tempo.
O congresso do PT, realizado nesse final de semana em Brasília, aprovou resolução que defende a regulamentação de mídia e o fim dos monopólios de meios de comunicação, que no Brasil é composto por poucas famílias. Embora ninguém fale em represália, os recentes acontecimentos referentes à “reportagem” da revista VEJA, que usou de métodos criminosos para obter imagens com o intuito de transformar José Dirceu em vilão perpétuo, mexeu com os brios dos petistas, que decidiram reafirmar o seu apoio ao projeto que Franklin Martins elaborou no segundo mandato de Lula.
Dilma e Lula foram aclamados como de costume, porém nesse ano foi mais intensa a recepção ao petista José Dirceu, fortalecido que sai do episódio do Naoum Plaza Hotel. Os discursos que se convergiram para a necessidade de regulamentação e as críticas à partidarização dos principais veículos de comunicação foram ouvidos quase em uníssono.
A reação da velha mídia é para lá de previsível, repetem como um mantra a palavra “controle”, como se impedir propriedade cruzada e concentração do mercado fosse modo de censura. Eles se apoiam na crença que, assassinando o contraditório, podem impor suas falácias com maior facilidade, mas não resistem a meia hora de debate. Logo eles que deram sustentação à ditadura militar, e consequentemente à censura, à perseguição política, à prisão injustificada, à tortura, ao assassinato e desaparecimento de brasileiros.
O posicionamento do PT em favor do projeto de regulamentação de mídia é um bom sinal, mas sendo o mais realista possível, não garante que o projeto vá à frente e emplaque. Devemos lembrar que o projeto do Franklin repousa na gaveta de Paulo Bernardo, que tem dado declarações muito vagas a respeito do interesse do governo em levá-lo adiante. Dilma não tem comprado brigas com a imprensa como fez Lula, embora nesse congresso tenha verbalizado algumas críticas mais contundentes. A posição do governo ainda é uma incógnita, no entanto tenho que reconhecer que as declarações mais enfáticas de Gilberto Carvalho, ao defender o projeto, podem sinalizar uma guinada positiva.
Acontece que mesmo com o apoio do PT e com o aval de Dilma, a caminhada para a aprovação no congresso nacional promete ser uma das mais difíceis. Fora o PT, o pequeno PCdoB, parte do PDT e nenhuma certeza do PSB, os demais partidos da base são compostos por políticos profissionais pouco afeitos a confrontos com grupos midiáticos, muitos deles dependem desses veículos para chegar a seus eleitores. A briga é de partidos mais à esquerda que não têm maioria para aprovar projetos mais ousados e precisam convencer moderados. A causa de esquerda não garante a adesão do PSOL, que tem se alinhado em oposição frontal a qualquer proposta do governo.
A alopragem da VEJA, além de arranhar ainda mais a sua desgastada imagem e render-lhes um processo criminal e outro civil que promete desfalcar o orçamento dispensado pela revista para pagar indenizações pelas mentiras que escreve, serviu para aumentar a pressão da militância sobre o governo, sobretudo em relação ao ministro das comunicações, pelo encaminhamento do marco regulatório. A reportagem que a revista produziu não acrescenta nada que possa ser usado contra o Dirceu, é mais uma peça de ficção travestida de jornalismo que só serve para alimentar a sede reacionária de uma minoria despeitada.
A conclusão é que a revista se queimou, cometendo crimes por nada… um tiro no pé. As reações descabeladas de blogueiros da revista dão uma mostra de como sentiram o golpe. Aos papagaios da VEJA espalhados nos outros veículos restou o contorcionismo para justificar a ação da revista e o constrangedor silêncio frente aos crimes contra a democracia. A democracia vira uma palavra suja na boca e no punho dessas pessoas.
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