quarta-feira, 6 de abril de 2011

Diferentes, mas iguais

Cartas de Londres
Por Mariana Caminha, no Blog do Noblat

A cada dia que passa, sinto-me mais perto do Brasil. A tecnologia, graças a Deus, me permite matar as saudades da família e dos amigos, além de me manter atualizada sobre o que se passa no nosso país. É possível saber de tudo: das notícias boas àquelas em que nos custa acreditar…

Semana passada, recebi de vários amigos um vídeo no qual certo deputado fazia declarações racistas e homofóbicas em rede nacional. Pelas opiniões exaltadas nos emails que recebi, parece que a atitude do parlamentar provocou discussão sobre a necessidade de leis que efetivamente protejam gays, lésbicas e transexuais no Brasil.

Pois digo a vocês uma coisa. Se o caso fosse aqui na Inglaterra, sua excelência, a essa altura estaria polemizando atrás das grades. A Inglaterra é tida como um país de extrema tolerância quando o assunto é a opção sexual, de seus cidadãos e de quem quer que viva aqui. Estima-se que haja no país, hoje, 4 milhões de homossexuais. Protegidos por lei, mais especificamente pelo Equality Act, que trata do preconceito contra vários grupos sociais. Além disso, desde 2003 a legislação inglesa protege gays, lésbicas e bissexuais contra discriminação no ambiente de trabalho, dando a essas pessoas os mesmos direitos trabalhistas de outras minorias da sociedade.


Mas nem tudo são flores. Mesmo sob o amparo da lei, homossexuais continuam a sofrer violência por aqui. De acordo com a Polícia Metropolitana de Londres, de fevereiro de 2010 a fevereiro de 2011 foram registrados 1312 crimes homofóbicos, somente na capital.

Para evitar que os números sejam ainda maiores, a violência motivada por homofobia é severamente punida. Um dos ultimos casos a ganhar atenção da mídia aconteceu ano passado, em plena Trafalgar Square. Um senhor de 62 anos, homossexual assumido, foi atacado por dois jovens quando saía de um pub, após comemorar o novo emprego. Por ser gay, apanhou até à morte. Seus agressores, depois de julgados e condenados, encontram-se hoje na prisão.

Além da lei que não admite homofobia, grupos independentes também ágem na luta contra a discriminação. Um dos mais famosos deles, o Stonewall, defende que a conscientização deve começar cedo, ainda na escola primária. Pesquisa feita pelo grupo revelou, por exemplo, que duas em cada cinco professoras primárias presenciaram, algum dia, cenas de bullying homofóbico nas escolas. A conscientização do problema leva tempo, mas, mesmo devagar, professores, pais e autoridades locais trabalham juntos para a aceitação das diferenças.

Longe de mim a ilusão de que o nome do paraíso é Inglaterra. Há seis anos, o brasileiro Jean Charles de Menezes foi estupidamente morto pela Scotland Yard, devido, justamente, à brutalidade que resulta do preconceito, da discriminação e da intolerância. Exemplo de que aqui, como no Brasil e em qualquer lugar do mundo, devem os cidadãos exigir de administradores e autoridades que pensem e governem como Benito Juarez, o mexicano que certa vez declarou: "O respeito ao direito alheio é a paz".

Mariana Caminha é formada em Letras pela UnB e em jornalismo pelo UniCEUB. Fez mestrado em Televisão na Nottingham Trent University, Inglaterra. Casada, mora em Londres, de onde passa a escrever para o Blog do Noblat sempre às segundas-feiras. Publicou, em 2007, o livro Mari na Inglaterra - Como estudar na ilha...e se diverti 

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