segunda-feira, 24 de junho de 2013

As manifestações, a democracia e o serviço sujo da mídia


Por Teca Simões

O mundo passa por uma grave crise econômica, decorrente da ganância de poucos, principalmente dos banqueiros, que controlam o valor das moedas dos países.

Ao mesmo tempo, nunca houve como agora uma geração com tanto acesso à informação. A crise do capitalismo é conhecida e acompanhada por todos, em tempo real.

O Brasil, apesar do sufoco mundial, conseguiu nos últimos anos reduzir a fome pela metade, bem antes do prazo de 2.015 estabelecido pela ONU. Tirou mais de 32 milhões de pessoas da linha da pobreza e hoje é respeitado e reconhecido pelos países afora como um ator importante na política mundial.

Mesmo assim, ainda convive com uma grande demanda da sociedade por educação, saúde, moradia e bem-estar social, em que pese os avanços nesses setores.

Há uma semana, multidões formadas em sua maioria por jovens ocuparam as principais cidades brasileiras, exigindo a redução das tarifas de ônibus. Como se sabe, as passagens no Brasil são caríssimas para o tipo de serviço que é oferecido à população.

Os protestos começaram em São Paulo, liderados inicialmente pelo Movimento Passe Livre-MPL, grupo apartidário criado no Fórum Social Mundial de 2005, em Porto Alegre.

Com o volume de participantes aumentando a cada ato, o apartidarismo acabou sendo engolido por atitudes antipartidárias e fascistas. Membros do PT, PSTU, PCO, PCdoB e PSOL que tentaram participar das manifestações com camisetas dos partidos foram violentamente atacados, tendo suas bandeiras tomadas e queimadas.

Ora, a política é essencial para a vida em sociedade e é feita de partidos. Fica difícil imaginar numa democracia almejar mudanças sem eles. Deslegitimar o poder e a política, como vem fazendo há algum tempo a mídia conservadora através da rede Globo, revista Veja e afins, prejudica mais do que ajuda.

A serviço de quem está a completa desmoralização dos políticos? E por que satanizar somente o Governo Federal e o Congresso Nacional? Sabemos que muitos são ladrões e corruptos, mas qualquer pessoa bem informada entende que não são todos.

A quem interessa então colocar todos em um mesmo patamar? Será por que, bem ou mal, os políticos são escolhidos pelo voto popular? Por que fazer desacreditar as instituições que precisam passar pelo aval de escolha da população, como os poderes Executivo e Legislativo?

Por que não se fala em corrupção no Judiciário? Por que juízes e outras "eminências" são tratadas como arautos da moralidade, quando sabemos que muitos deles, além de viverem de mordomias pagas pelo contribuinte, são apadrinhados e ligados a interesses escusos? Por que não se fala em banqueiros, industriais, empreiteiros e empresários corruptores? Afinal, os políticos corruptos são comprados por alguém.

E ainda: As notícias que aparecem ao longo das últimas décadas tem consonância com a realidade que estamos vivendo?

A alienação acomete a muitos de nós trabalhadores. Nós fazemos parte dos 99% da humanidade, porém somos impregnados de valores e regras de comportamento próprios do restante 1%. A classe social abastada detém o domínio sobre o conjunto da sociedade e impede-nos de vermos os mecanismos usados pelos poderosos para que amemos alguns e odiemos outros.

E o que pensam os poderosos sobre nós? Basta olharmos algumas novelas e outros programas da televisão brasileira. A forma estereotipada dos personagens pobres (em geral das favelas) é de embrulhar o estômago. Quase sempre são vagabundos ou malandros, que comem buchada ou dobradinha despertando caras de nojo nos grã-finos, quando inexplicavelmente se encontram no mesmo ambiente.

O descontentamento dos jovens é o sangue novo para a transformação, pois, apesar das pessoas estarem em melhores condições, a vida nas grandes cidades está insuportável e o sentimento de revolta com "tudo isso que está aí" atinge essa parte da população, historicamente mais sensível.
Oxalá tanta energia da juventude seja ampliada para demandas não menos importantes do povo brasileiro, como as lutas dos trabalhadores sem terra e dos indígenas, o combate à violência e às mordomias desenfreadas de políticos do Executivo e Legislativo federal, estadual e municipal, sem esquecer os ministros do Supremo Tribunal Federal e juízes e desembargadores de todas as instâncias.

Lembremos sempre que a ordem democrática assegura o direito de quem quer protestar e de quem não quer. Os jovens estão nas ruas, ótimo. Que as reivindicações sejam legítimas, mas com olho crítico. Os meios de comunicação como Rede Globo já estão ditando a pauta das manifestações, de preferência colocando como alvo o PT e o Governo Federal, que administram o país há dez anos e não são os preferidos dos poderosos.

A verdade seja dita, já que queremos passar o Brasil a limpo: A grande mídia, tendo à frente o Sistema Globo de Comunicação, não tem nenhum compromisso com a informação, muito menos ainda com a verdade.

Torço para que não aconteça o que vaticinou o jornalista Joseph Pulitzer: "Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil como ela mesma".

Lembro ainda Malcolm X: "Se você não for cuidadoso, os jornais farão você odiar as pessoas que estão sendo oprimidas e amar as pessoas que estão oprimindo.

Teca Simões é professora de Goeografia

Um comentário:

  1. Sobre esses grupos fascistas que pregam um golpe de Estado no Brasil, acabo de publicar meu novo livro "O Brasil na 'era dos imbecis'- o discurso de ódio da Direita". Está disponível no site do Clube de Autores: https://www.clubedeautores.com.br/book/188020--O_Brasil_na_era_dos_imbecis#.VX29ZvmqpBc

    ResponderExcluir