Hummmm... Acho que vi um moralista na TV |
Por Eder Fonseca, no Brasil 247
Todos ou quase todos os jornalistas e observadores das mais variadas correntes já deram suas opiniões sobre o caso Demóstenes Torres by Carlinhos Cachoeira. Ouvi e li de tudo. Coisas de grande valia, como também belas porcarias para vender notícia. Li até uma puxação de saco explícita para o lado do "professor" Cachoeira, mas enfim, como diz um amigo meu, o verbo é livre. Não vou analisar o lado político da questão que, cá entre nós, é chato pra caramba, e que não vai dar em nada no final das contas, já que eles estão sendo defendidos pelos Kakays e Thomaz Bastos da vida, que sempre resolvem a "parada" daqueles que podem pagá-los bem, muitíssimo bem por sinal. E se pegarmos por esse fio condutor, não sobrará nenhum partido limpo para contar história, pois quando um homem entra na política e faz dela o seu "habitat natural", é como se ele fizesse um pacto com o gabiroto, tamanha a promiscuidade que rola por debaixo dos panos dourados da República, e que nós, os bobos eleitores da corte, nem sabemos, ou pelo menos temos uma rasa noção do que acontece no maior prostíbulo do Brasil: o Congresso Nacional.
O mais engraçado nessa história é que Demóstenes Torres, até dia desses, era o paladino da ordem, da moral, e da ética nacional. Um homem acima de qualquer suspeita, com aquela cara de falso polímata. Quantas e quantas vezes estava cochilando na minha sala de madrugada (sim, o jornalismo na televisão aberta no Brasil tem esse poder) e lá aparecia o senhor todo poderoso do DEM, no "Pinga Fogo" do Jornal da Globo, com o opaco Heraldo Pereira como mediador, e do outro lado, no “ringue” do Planalto, quase sempre um político do PT. Ele era o nome da oposição quase inexistente no Brasil, nesses pouco mais de nove anos de Governo vermelho com cara de azul.
Eu não me espanto nem um pouco que o senhor Torres tenha irrigado às suas contas bancárias com milhões e milhões, de origem escusa, já que muitos outros fizeram, fazem e irão fazer a mesma coisa. O problema é que quando você é um falso moralista, a mancha se torna muito maior e mais espessa do que quando às vossas senhorias dizem que roubam, mas fazem, sem um pingo de vergonha na cara (aliás, se tivessem, nem políticos os tais seriam).
Em outros lugares, enxergamos esse mesmo moralismo, ou melhor, a falta dele. Quantas vezes não vemos, em alguns ambientes, a cara de ojeriza de alguns "homens" – com h minúsculo – quando adentram dois homossexuais no mesmo recinto em que estão. Quantas vezes não ouvimos uns susurros preconceituosos como "que vontade de bater nesses caras". Mas o cidadão que fala isso, muitas vezes ou quase sempre, trai a sua esposa, é um péssimo pai e marido, quando não, é o passivo nas relações sexuais fora da sua alcova (já entrevistei algumas garotas de programa, então sei do que estou falando). Posam de machões, mas são uns depravados sexuais, e aqui não é questão de concordar ou discordar das vontades alheias e reprimidas desses sodomistas, isso só cabe a eles. O que me diz respeito nessa questão é a falsa imagem que querem passar, de moralistas tenazes, que no fundo não passa de um cartaz de filme vagabundo baseado em histórias reais.
Existe também alguns pregadores e líderes religiosos (e não só evangélicos, diga-se de passagem) que dizem que a maior riqueza do ser humano é lá no Reino dos Céus, mas que por aqui, no Reino dos Homens, entesouram fortunas, fazendo parte do seu vasto patrimônio grandes emissoras de rádio e televisão, fazendas e mansões nababescas, jatinhos e carrões importados, enfim, um luxo do jeito que o Diabo gosta. Há também aqueles padrecos metidos a Párocos sérios, que se orgulham de serem "casados com Cristo" e que são fortemente adestrados à causa celibatária, mas que na verdade adoram ser "papados" por uns anjinhos que os guardam às costas, literalmente. Temos também aquelas senhoras de idade avançada, que xingam bem baixinho as lolitas espevitadas, com palavrões que vão de biscate a piranha passando por vadia a cachorra, só porque estão usando uma minissaia mais ousada pelas ruas das nossas cidades. Elas só se esqueceram que adoravam fazer as loucuras mais ardentes e luxuriosas na juventude, nos lugares mais inusitados e misteriosos (afinal, o não permitido era muito mais gostoso), sempre às escondidas, em épocas extremamente conservadoras, quando o olhar para o lado já era considerado um crime de guerra.
Se pudessem, os pais das meninas colocariam burcas afegãs e cintos de castidade como vestimentas obrigatórias para proteger as suas "donzelas indefesas". Existe o policial que dá entrevistas pomposas para à grande mídia, ao lado de figurões e autoridades a níveis municipais, estaduais e federais, forçando uma de herói da pobre população oprimida e indefesa, e que na verdade apreende as substâncias ilícitas dos meliantes para vender e fazer um caixa 2, quando não, guardam um pouquinho para suas festinhas particulares, regadas a sexo, sertanejo “universotário” e é claro... drogas. Apresentadores de TV e rádio que adoram amassar formiguinhas (pessoas sem influência e poderio financeiro, os chamados pejorativamente de "Zé Ninguém") com lentes de aumento, mas quando é para falar das lambanças dos tubarões poderosos dizem apenas as iniciais. Um outro caso que você já deve ter visto por aí é o do cara que xinga os homens públicos, falando que eles são um bando de ladrões. Mas depois de um tempo de conversa dizem que se estivessem por lá, no meio da politicalha, fariam a mesma coisa, afinal todo mundo rouba, por que eles seriam diferentes num país onde Macunaíma é herói?
O que quero deixar claro aqui neste texto é que ninguém em nosso país é santo. Por mais que os indíviduos sejam éticos, um dia eles podem cair, afinal a raça humana é, desde a sua origem, imoral. E tanto faz se você analisar a situação pelo lado religioso ou histórico. A luta pela moralidade é diária e individual, com a sua consciência sendo provada a cada instante, nos mais discretos e indiscretos atos e reações. Por essa razão, nunca devemos ter a arrogância de acharmos que somos autoimunes e acima do bem e do mal. Olhe sempre com desconfiança nos que dizem serem retos demais. Não inocento Demóstenes Torres em nenhum momento por um simples detalhe: ele foi um falso moralista, e pior, foi um demagogo igual àqueles que ele tanto se orgulhava de acusar com o dedo em riste, ficando com a palma da mão amarelada no final. Preste muita atenção também em alguns órgãos da grande mídia que querem colocar o caso como um delito menor, uma coisa quase feita pela inocência de adultos que não tiveram uma infância abastada. Não vamos esquecer que os mensaleiros, que Demóstenes Torres, que Jorgina de Freitas, que Paulo Maluf (não sou eu quem diz, é a Interpol) e tantos outros ratos bem vestidos, apreciadores de Cohibas legítimos, de Veuve Clicquot Ponsardine e de Johnnie Walker Gold Label, estão no mesmo balaio de gatos. Não existe ação menor ou maior. Análises com muita paixão nesse momento, de um lado ou de outro só tamparão a nossa visão para a bola de neve imunda que cobre o país, e não só na política, que hoje está mais homogênea que heterogênea, mas em todos os setores da nossa sociedade, que anda cada vez mais empobrecida de exemplos decente.
Eder Fonseca é diretor do portal Panorama Mercantil
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