Escrito por Brizola Neto, no Tijolaço
A orientação sexual, como qualquer outra que dependa das convicções íntimas de qualquer pessoa, é uma liberdade inalienável do cidadão, e não o deve fazer ser considerado melhor ou pior por isso.
É totalmente compreensível e louvável a ação da comunidade homossexual contra a discriminação de que é vítima, discriminação que não raro se explicita em violência. E deve-se a essa ação grande parte do pouco que o nosso país tem avançado em matéria de respeito ao ser humano, seja qual for o caminho que escolha para sua vida sexual.
O respeito à diversidade, neste e em outros campos é, sim, matéria a ser tratada nas escolas. Como é o racismo, como é a discriminação aos portadores de deficiências, às religiões, a tudo que nos impeça de ver a igualdade fundamental do ser humano.
Justamente por isso, creio que temos de cuidar para que nosso desejo de tolerância não alimente os intolerantes.
O caso Bolsonaro, diante do qual tenho o orgulho de ter, desde o primeiro momento, um dos que reagiu à manifestação racista, foi um exemplo deste perigo.
Flagrado num ato de racismo, que é crime inafiançável, Bolsonaro espertamente desviou a questão para o caminho da homofobia que, embora preconceito também, não é crime e tem maior acolhida cultural na sociedade, infelizmente.
Foi ele que deflagrou esta polêmica em torno do que chamou, pejorativamente, de “kit-gay”. E nós, perdoem-me a gíria, “demos mole” para ele, embarcamos no desvio que ele, espertamente, deu à discussão.
Mas permitimos que a polêmica – justo no momento em que se dá grandes passos neste sentido, com as decisões do Supremo – fosse manipulada.
Curiosamente, encontrei num comentário a um post do Paulo Henrique Amorim, a manifestação do leitor Israel Anderson, de extrema lucidez, que transcrevo:
“Sinceramente – e como homossexual – não vejo problemas com a idéia em si. É uma ação educativa até boa. Mas como profissional de comunicação, vejo que o conceito da campanha está errado desde o começo. E é baseado nessa má-interpretação que as bancadas religiosas começaram todo esse alvoroço. A má interpretação de que o kit iria ‘ensinar os jovens a serem gays’ ou que ’ser gay é cult’, etc, foi o principal problema com o conceito dessa campanha. Os vídeos não encorajam isso, claro, mas a má-interpretação, sim, seria negativa. Então, nesse ponto, achei uma atitude sensata por parte da Dilma em suspender este projeto atual e encomendar outro – dessa vez, integrando ministérios como educação e saúde (e direitos humanos também). A melhor ação nesse sentido seria levar a discussão espontaneamente para as salas de aula através de uma campanha nacional e a capacitação do corpo docente que é, em muitas vezes, contrário a essas ações levados a isso pela má-interpretação e por preceitos religiosos”
Vou conversar com o Jean Wyllis, um companheiro de parlamento que aprendi a respeitar. Se queremos avançar, no quadro que temos, é preciso fazer política. E política é fazer os avanços possíveis e aceitar os recuos minimamente necessários. Houve uma má condução deste projeto, que é positivo e se permitiu, na prática, a distorção que o Anderson aponta.
Precisamos isolar o preconceito e não sermos isolados pelos preconceituosos.
Esta campanha não tem como centro a opção sexual, mas o direito à felicidade. E fui buscar onde menos se esperava, numa sociedade marcada por este preconceito, a mudança de foco que se faz, com o apoio do Estado, num cartaz improvisado e carregado por uma senhora cubana, que é mais inteligente e tocante que tudo o que se possa ter escrito “pedagogicamente” sobre o tema.
E que reproduzo aí abaixo, para que seu impacto seja antecedido da reflexão.
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